«O FUTURO É 100% ELÉTRICO»
A STELLANTIS É O QUARTO CONSTRUTOR A NÍVEL MUNDIAL. EM PORTUGAL, O GRUPO FRANCO-ITALO-AMERICANO É LÍDER DE VENDAS, REPRESENTANDO 25% DAS VENDAS TOTAIS DE VEÍCULOS, E COM FORTE PENETRAÇÃO NO SEGMENTO EXECUTIVO
Stellantis consolidou, em 2023, a posição de segundo maior construtor automóvel no ranking de vendas do mercado total europeu (UE29), garantindo uma quota de mercado de 18,4%. Com uma quota de mercado superior a 30% no mercado de veículos comerciais, o grupo ocupa a primeira posição do ranking, conquistando um lugar no pódio no ranking europeu no que respeita aos Veículos Eléctricos a Bateria (BEV), com uma quota de mercado de 14,2%. Em Portugal, a Stellantis apresenta-se como líder do mercado total, do mercado VP (Veículos de Passageiros), VCL (Veículos Comerciais Ligeiros) e do mercado electrificado total, liderando também as vendas nos VCL eléctricos.
No segmento automóvel executivo, o Premium Cluster do Grupo, que engloba as marcas DS Automobiles e Alfa Romeo, é igualmente responsável por um acréscimo de vendas, especialmente para executivos que procuram uma alternativa premium ao mercado dominado por insígnias germânicas.
Nesta entrevista, David Correia, Country Manager do Premium Cluster da Stellantis Portugal, traça um histórico do segmento, fala-nos de alguns dos modelos da marca mais procurados e de como a tecnologia e a transição energética estão a moldar o presente, e, sobretudo, a definir o futuro.
Qual o posicionamento da Stellantis Premium Cluster no segmento dos automóveis executivos?
A Stellantis é hoje o quarto construtor a nível mundial com maior volume de vendas e isso é consegui-do devido a uma gama alargada de produtos. Somos representados por 14 marcas e, mais recentemente, com o lançamento da Leapmotor, passámos a 15. Somos um grupo com origens diferenciadas – somos franco-italo-americanos – e isso dá-nos a vantagem de trazermos para o nosso portefólio diferentes características e culturas que se ref lectem na materialização dos nossos produtos. Temos, de facto, uma gama muito abran¬gente que cobre as necessidades do segmento executivo.
Em particular, o Premium Cluster do Grupo Stellantis, constituído pela DS Automobiles e pela Alfa Romeo, enquadra-se muito bem na gama executiva, porque o premium está, naturalmente, associado a executivo.
O B2B nas nossas vendas é muito significativo – representa entre 60-70% das nossas vendas. Por esse motivo, estamos realmente alinhados para este mercado executivo. Há uns anos, o mercado era demasiado germânico, com marcas como a Audi e a BMW a liderar o segmento.
A Stellantis veio fazer o contraponto e depois da fusão da parte francófona (grupo PSA), lançámos a DS Automobiles como marca autónoma, há 10 anos, para trazer ao mercado aquilo que era o “savoir faire” do luxo francês que encontramos noutras indústrias quando queremos produtos topo de gama.
Com a fusão da parte italo-americana da Stellantis, trouxemos a Alfa Romeo, que tem feito um caminho para se posicionar como premium, porque tem de facto características diferentes. Enquanto que DS é sinónimo de design, luxo, conforto e requinte, a marca centenária Alfa Romeo proporciona a parte da paixão visceral pela condução e a desportividade. São duas ofertas diferenciadas da Stellantis no segmento premium.
O que é que um condutor executivo procura?
O cliente executivo valoriza muito o design, a tecnologia embarcada e a segurança que os veículos lhe transmitem. Temos notado, devido à evolução da sociedade enquanto um todo e também por força do esquema de incentivos fiscais que existem para fomentar a compra associada à transição energética, que, quer do ponto de vista conceptual, quer devido a estas políticas, a parte ambiental tem sido também um driver essencial para esta população.
Que modelos Premium Cluster da Stellantis são mais direccionados para o target executivo?
De uma forma transversal, quer na DS Automobiles, quer na Alfa Romeo, vamos desde o segmento B até ao segmento D. Na DS, existe o DS 3, com duas energias, 100% eléctrico ou mild-hybrid. O DS 4, que entra no segmento C, está disponível com duas energias, o híbrido plug-in ou o mild-hybrid, além da motorização diesel. Depois, temos o DS 7, no segmento C-SUV, também com energia térmica e energia híbrida plug¬-in. Na Alfa Romeo, a situação é idêntica. Para o segmento B, lançámos, recentemente o novo Junior que se apresenta como o primeiro modelo da marca Alfa Romeo 100% elétrico, sendo que é, contudo, lançado em duas energias, 100% elétrico e MHEV. Para o Segmento C-SUV temos o Tonale com energias híbridas plug-in e térmicas. Por fim, o Stelvio e o Giulia, que entram no segmento D. São veículos concebidos para um posicionamento mais premium, para clientes mais executivos.
Diria que este segmento procura mais a tecnologia, a segurança ou uma perspectiva ambiental?
Penso que ainda é um equilíbrio de tudo. Se recuarmos no tempo, a questão da sustentabilidade não era um driver. Hoje, é um factor de compra, quer enquanto “cidadão executivo”, quer por força de estar enquadrado numa empresa que tem esse carácter social de promover a vertente ecológica e que, no momento de aquisição, também é “empurrada” para fazê-lo, devido aos benefícios que promovem a aquisição de veículos 100% eléctricos ou híbridos plug-in por parte de empresas e dos executivos.
Relativamente às novas energias, este tipo de condutor já tem esse conhecimento ou existe um trabalho de “formação” das marcas?
O sector tem feito um importante trabalho de formação e literacia até porque, nos últimos anos, tem sido muito pressionado para esta transição energética, por força das políticas que a Comunidade Europeia decretou. Nesse sentido, temos sido um player e um fast mover nesta transição energética. As diferentes políticas de aquisição e fiscais de cada país fazem com que a empresa que é responsável por adquirir a viatura para a frota ou para atribuir a um executivo adquira um híbrido plug-in ou um eléctrico, mas muitas vezes, e no caso dos híbridos plug-in, continua a ser necessária alguma formação de como é que estes veículos funcionam e como tirar melhor partido destas energias. O retalho automóvel tem tido um papel fundamental nesse contexto.
No entanto, o design e o conforto continuam a ser factores distintivos?
Sem dúvida. Acredito que, nos últimos tempos, não deixaram de ser os factores de eleição, mas outros se juntaram. É o caso da tecnologia, que passou a ser um driver para a aquisição e que não é ignorado, de todo, por parte dos executivos. E também a sus¬tentabilidade, seja pela questão conceptual, seja pela questão das políticas e vantagens em prática.
A sustentabilidade passou a ser um driver, mas o executivo continua a privilegiar veículos de maior dimensão?
Não sei se é correcto da minha parte dizer que ainda existe esse “estigma”, mas, sim, o executivo continua a procurar veículos de maiores dimensões. No entanto, e de uma forma muito ténue, começamos a observar uma transição, sobretudo nos grandes centros, que se pode dever à pressão da falta de espaços disponíveis para estacionamento. Sentimos que alguns executivos nos procuram já para soluções de veículos de menores dimensões, precisamente para garantir uma mobilidade mais facilitada no dia-a-dia.
Considera que o actual contexto económico veio trazer novos de¬safios ao segmento dos mercados de automóveis executivos?
Trouxe, desde logo, desafios para o Grupo enquanto construtores. Por decreto daquilo que são as políticas vigentes por parte da Comunidade Europeia, o sector foi impulsionado para uma electrificação num curto espaço de tempo. Foi forte e impactante para nós, e obrigou a uma reorganização e mudança de toda a nossa tecnologia para dar resposta a esta necessidade de trazer ao mercado uma oferta 100% eléctrica.
Esse factor implicou um grande investimento por parte dos cons¬trutores e isso muda o contexto porque não foi dado o tempo suficiente para que isso acontecesse. Nesse sentido, as ofertas que trazemos ao mercado nem sempre estão adaptadas à capa-cidade de compra desse mercado. É mais premente no mercado particular do que propriamente no mercado das empresas onde encontramos estes executivos, mas também existe, de alguma forma, neste sector.
As políticas governamentais têm feito alguma diferença e procuram posicionar este tipo de oferta de forma mais acessível a este mercado, porque é preciso amadurecer as tecnologias e ganhar eficiência de escala em termos de produção, para que possamos efectivamente trazer os veículos eléctricos para um preço que está equiparado com aquele que o cliente executivo estava habituado a investir na compra de veículos a combustão.
Resumindo, existe uma alteração de contexto económico, quer para quem desenha, fabrica e traz ao mercado veículos, quer, de alguma forma, pela conjuntura nacional e internacional e do poder de compra existente, também para o mercado e para os clientes.
O amadurecimento da tecnologia tenderá a permitir uma construção mais efectiva e acessível?
Sem dúvida. Vivemos numa era de transição tecnológica profunda. Olhamos para trás e vemos como já foi e tentamos perspectivar para a frente. No sector automóvel, e sobretudo no segmento executivo, que é mais exigente, penso que a tendência de futuro será assente em tecnologia e inteligência artificial (IA).
A IA já existe hoje e acredito que se tornará mais massificada nas viaturas, seja na mobilidade ou em tudo aquilo que constitui auxílio à condução, até chegar a um nível máximo de condução autónoma, que terá de ser legislado.
Por isso, eu diria que a inteligência artificial e a condução autónoma serão efetivamente a tendência do futuro, além da melhoria da eficiência na parte da electrificação, seja autonomia de baterias, dimensões de baterias, pesos de baterias, tempos de carga, entre outras. Há, actualmente vários testes e pesquisa de novas tecno¬logias na área das baterias.
A Stellantis já está a apostar na condução autónoma. Podemos dizer que a tecnologia está a mudar os condutores?
Sim, é verdade que enquanto grupo estamos a apostar já na condução autónoma. No entanto, levar a condução autónoma a um extremo máximo daquilo que co¬nhecemos actualmente depende muito da legislação e existem questões profundas que não estão amadurecidas ainda. Muito em breve teremos no Grupo novos avanços nesta matéria. Hoje, os nossos produtos oferecem conduções autónomas de nível 2+, nomeadamente no que respeita à assistência à condução, como o sistema de permanência na faixa de rodagem.
Essa é uma das formas de as¬sistência à condução, mas exis¬tem outras, como a limitação de velocidade. Hoje em dia, toda a nossa gama tem esta solução integrada, sendo possível parametrizar o carro para que respeite os limites de velocidade das zonas onde circula.
A tecnologia está a contribuir para um bem comum, de forma a diminuir a sinistrali-dade e a aumentar a segurança, mas é importante acompanhar o condutor, para que entenda todas estas transformações e se possa adaptar a este novo paradigma. Um ponto interessante é que, na transição energética, os clientes que gostavam de uma condução desportiva e de maior velocidade, começam a ter uma outra percepção da autonomia do veículo, e na óptica de poupar energia da bateria, acabam por conduzir mais devagar e fazer uma condução mais económica.
Como é que a Stellantis vê a mobilidade no futuro?
Começo por dizer que o futuro será sempre aquilo que, de alguma forma, o poder político quiser. Hoje, e devido às tendências que se observam e às decisões governamentais tomadas, vemos o futuro como sendo eléctrico. O sector automóvel foi “obrigado” a transformar-se para ter ofertas 100% electrificadas. A Stellantis tem sido um fast mover neste caminho e quer continuar a sê-lo. Por isso, para nós, o futuro é 100% eléctrico.
No entanto, como sabemos que o caminho faz-se caminhando, de alguma forma temos dado também o poder de escolha aos clientes. Hoje, enquanto Stellantis, temos uma oferta de 48 modelos, 100% eléctricos, que designamos por BEV (Veículos Eléctricos a Bateria). E temos cerca de 20 modelos com energia de combustão, assente no mild-hybrid. Por isso, o mild-hybrid é também uma aposta para nós. Esta tecnologia permite reduzir as emissões em cerca de 20% face a um motor de com-bustão e, por isso, estamos muito orientados nestas duas vertentes energéticas — os 100% eléctricos e os mild-hybrid —, e não temos dúvidas de que o futuro é eléctrico, porque o mundo precisa.